sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Declarações de um ex-pichador


Responsável pelo trabalho do Força Jovem em Minas e ex- líder de uma gangue de pichadores na cidade de São Paulo, o pastor Daniel Retamiro dá detalhes de sua trajetória no mundo da criminalidade até a sua conversão, em entrevista exclusiva.



Com apenas 14 anos o senhor já era líder de uma gangue de pichadores. O que motivou o senhor a tal prática?
“Primeiramente foi a falta de Deus e segundo o vazio que tinha no coração. Para a sociedade o ato de pichar é considerado vandalismo, mas para os pichadores é uma fama. Uns são reconhecidos por serem jogadores, outros atores. O pichador é reconhecido pela ousadia, coragem, pois a adrenalina é muito forte quando se está pichando. Isso massageia o ego, e se torna um vício”.


E o vício de pichar levou o senhor a cometer outros crimes?
“Sim. A pichação me levou ao roubo, pois pela facilidade que tínhamos de entrar nos lugares sem ninguém ver, surgiu a seguinte questão: Por que não roubar? No início começou como uma brincadeira, depois virou um hábito. Por isso que na minha opinião pichar é um vício, e esse vício leva o jovem para a criminalidade”.

As gangues de uma maneira geral costumam ser organizadas. Qual o perfil das pessoas que faziam parte das gangues de pichadores e como eram os encontros?
“No meio das gangues tinha pai de família, advogados, policiais, mulheres, universitários, tudo que se imagina. A gente se encontrava às sextas feiras, no período da tarde, no chamado “Point” da Anhangabaú em São Paulo. Ao todo, somente em São Paulo, existem cerca de 30 mil pichadores. Em alguns encontros reuníamos cerca de mil e duzentos pichadores, marcávamos o “role”, a gente saía e só voltava no sábado à noite. Decidíamos que iríamos para tal cidade e ficávamos a madrugada inteira pichando. Pra ficar acordado, eu usava cocaína, maconha e bebidas. Mesmo assim, havia um respeito grande pelo o que cada pichador tinha feito, quanto mais ousado era, mais respeito tinha. Poderia ser igreja católica, delegacia, hospital, fórum e até a Igreja Universal”.


O senhor chegou a ser preso algumas vezes. Qual foi o momento mais difícil nesse período?
“Foi quando fui preso pela Rota de Santo Amaro enquanto tentava pichar o batalhão. Eu me lembro que fui levado para um lugar ermo da cidade e espancado, não morri porque Deus tinha um plano na minha vida. Fui torturado, recebi coronhadas, pensei que iria morrer. Nesse período eu já era pai, e a minha ficha começou a cair, pois tinha uma filha pra criar.

Como aconteceu a mudança na vida do senhor?
“Quando cheguei na igreja estava doente, jurado de morte, desempregado, com a vida e a família destruídas. Recebi o convite da minha mãe e aceitei. Encontrei o Força Jovem que me deu apoio e me ajudou. Com três meses na Igreja Universal, me batizei, em nove fui levantado à obreiro, e em 1 ano me tornei líder do Força Jovem em Diadema. Fiquei 1 ano em Diadema e fui transferido para São Bernardo do Campo e levantado à pastor. Liderei o força jovem no ABC Paulista durante 5 anos. O que foi difícil, não foi me libertar, mas sim agüentar a vida que eu estava vivendo, pois ou era cadeia ou caixão”.

Qual mensagem o senhor pode deixar aos jovens, que assim como o senhor um dia esteve, estão envolvidos em situações difícieis e não vêem uma saída?
“Que independente do que ele é ou já foi, Deus quer fazer da vida dele uma grande maravilha. Porque se pra mim todos diziam que não tinha jeito e Deus consertou, assim também Ele pode fazer na vida de quem se entregar. O maior segredo da minha vida foi a entrega incondicional, forte e rápida no altar. Pois talvez, se eu tivesse esperado passar mais um dia, não estaria aqui para contar essa história”.

Pastor Daniel Retamiro, 30 Anos, casado há 10 anos. Pai da Thais, de 13 anos e líder Estadual do Força Jovem de Minas Gerais.

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